Conheça as principais diferenças entre as regiões da China
Conheça as diferenças regionais da China e se surpreenda com sua grande diversidade
Quando pensamos na China, é comum generalizar o país de uma forma muito simplificada, como se o país inteiro fosse igual em todo lugar. Porém, a China é um país vasto e multicultural, cobrindo uma área que vai das geleiras do Himalaia, às praias tropicais da Ilha de Hainan e ao gélido norte com seus festivais de esculturas de gelo.
Com mais de cinco mil anos de história e uma população de 1,4 bilhão de pessoas distribuídas entre 56 etnias, a China é um mosaico de costumes e tradições. Cada canto da China guarda traços únicos de sua geografia, tradições e povos, resultando em uma diversidade de costumes, dialetos, culinárias e estilos de vida que formam a essência de uma civilização grandiosa.
Hoje vamos explorar as diferenças entre as regiões da China, especialmente entre o Norte, o Sul e o Oeste, revelando as nuances culturais e a riqueza que tornam esse país tão fascinante.
Diferenças entre dialetos e sotaques nas regiões da China
O Mandarim – 普通话 (pǔ tōng huà) é baseado no dialeto de Pequim. Mas, mesmo dentro do Mandarim, há variações de sotaque que podem ser notadas nas diferentes regiões da China:
- Mandarim do Norte: A pronúncia do Norte é conhecida pelo uso do “儿化音” (ér huà yīn), que adiciona um som “er” ao final de palavras. Por exemplo, a palavra “flor” é pronunciada “花儿” (huār) no Norte, enquanto no Sul, é simplesmente “花” (huā).
- Mandarim do Sul: No Sul, os falantes tendem a suavizar os tons e a omitir o “er”. Uma frase comum como “Você está indo para onde?” soa como “你去哪儿?” (nǐ qù nǎr?) no Norte, mas no Sul, seria “你去哪里?” (nǐ qù nǎ lǐ?).
Para ficar mais claro de como são os sotaques na China, assista a este vídeo do canal do Clube de Chinês, onde o Gustavo fez comparações usando regiões do Brasil como exemplos:
Lembrando essas são generalizações e há muitas exceções. Além do Mandarim, existem dialetos regionais que diferem consideravelmente da língua oficial:
- Cantonês – 广东话 (guǎng dōng huà): Um dos dialetos mais importantes do Sul, falado principalmente em Guangdong e Hong Kong. Antes de se escolher o Mandarim para ser o idioma padrão da China, o Cantonês era um dos preferidos para ser escolhido como o padrão, mas no final o Mandarim foi escolhido.
- Hokkien – 闽南语 (mǐn nán yǔ): Popular na província de Fujian e em Taiwan. Uma frase simples como “Eu te amo” soa como “我爱你” (wǒ ài nǐ) em Mandarim, em Hokkien é “我愛你” (góa ài lí).
- Shanghainês – 上海话 (shàng hǎi huà): Um dialeto falado em Xangai que é muito diferente do Mandarim. “Como você está?” em Mandarim é “你好吗?” (nǐ hǎo ma?), mas em Shanghainês é “侬好伐?” (nóng hǎo va?).
Neste vídeo você vai conseguir notar as diferenças entre o mandarim e o cantonês:
Os 8 grandes estilos culinários da China
A culinária chinesa é incrivelmente variada e pode ser dividida em Oito Grandes Estilos Culinários – 八大菜系 (bā dà cà ixì), cada um representando uma tradição regional distinta:
- Culinária de Shandong – 鲁菜 (lǔ cài): Caracterizada por sabores fortes e pratos à base de frutos do mar e sopas robustas. O Norte é famoso pelo uso do trigo, resultando em pães, massas e bolinhos como os Jiaozi – 饺子 (jiǎo zi).
- Culinária de Sichuan – 川菜 (chuān cài): Conhecida pelo uso liberal de pimenta e especiarias, resultando em pratos picantes e saborosos, como o Frango Gongbao – 宫保鸡丁 (gōng bǎo jī dīng).
- Culinária de Guangdong – 粤菜 (yuè cài): Leve, com foco em ingredientes frescos e uma preparação meticulosa, como o Dim Sum – 点心 (diǎn xīn).
- Culinária de Fujian – 闽菜 (mǐn cài): Famosa por seus pratos à base de frutos do mar e sopas refinadas.
- Culinária de Hunan – 湘菜 (xiāng cài): Picante como Sichuan, mas com sabores ácidos e salgados mais pronunciados.
- Culinária de Anhui – 徽菜 (huī cài): Conhecida pelos ingredientes silvestres e métodos de cozimento que preservam o sabor natural.
- Culinária de Zhejiang – 浙菜 (zhè cài): Delicada e ligeiramente doce, com muitos pratos de frutos do mar e vegetais frescos.
- Culinária de Jiangsu – 苏菜 (sū cài): Caracterizada por pratos refinados, ligeiramente doces, e um equilíbrio perfeito de sabores.
Norte da China: A herança imperial e as planícies frias
O Norte da China é conhecido como o berço da civilização chinesa, com raízes que remontam às antigas dinastias imperiais. É uma região de tradição conservadora e forte influência confuciana, com destaque para cidades históricas como Pequim (北京 – běi jīng), que abriga a Cidade Proibida e o Templo do Céu.
A região Norte também é marcada pelas paisagens de planícies vastas, muralhas milenares e montanhas nevadas. É também a origem do Mandarim, o idioma oficial e mais falado na China, ensinado em todas as escolas chinesas.
Sul da China: O verde luxuriante e a diversidade linguística
O Sul é famoso por sua atmosfera tropical e seus campos de arroz que se estendem até onde a vista alcança. Regiões como Guangdong e Guangxi têm uma forte influência do comércio marítimo, o que resultou em cidades prósperas e abertas a influências internacionais.
No Sul, há uma maior mistura de culturas e influências. Hong Kong é um dos exemplos mais vibrantes dessa fusão, com um misto de tradições chinesas e ocidentais.
Oeste da China: as minorias étnicas e culturas distintas
O Oeste da China é o lar de uma diversidade étnica impressionante, com 55 minorias reconhecidas oficialmente além da etnia Han – 汉族 (hàn zú), que representa a maioria da população.
O Oeste é o lar de diversas minorias, como os Tibetanos – 藏族 (zàng zú), conhecidos por sua espiritualidade budista e pelo Dalai Lama. O Oeste também abriga os Kazakhs, Mongóis, e os Hui, que são muçulmanos de língua chinesa. Essas minorias não apenas mantêm suas tradições, mas também influenciam a cultura maior da China, resultando em um mosaico complexo e fascinante.
A Cultura única do Oeste da China: Os Uyghur
Os Uyghur – 维吾尔族 (wéi wú ‘ěr zú), que vivem principalmente na região de Xinjiang – 新疆 (xīn jiāng), são um povo de origem turcomena com uma cultura que se diferencia bastante do resto da China.
A maioria dos Uyghur é muçulmana, e a religião influencia fortemente sua vida cotidiana, festivais e culinária. A música Uyghur, com seus ritmos envolventes e danças vibrantes, é uma parte central da cultura, assim como o Festival de Corban, 古尔邦节 (gǔ ‘ěr bāng jié), uma das principais celebrações.
São uma das etnias cuja cultura é mais apreciada pelos chineses, em toda a China é comum se encontrar restaurantes Uyghur, danças Uyghur sempre viralizam em redes sociais, sem falar dos diversos atores e atrizes que fazem sucesso por aqui. Além do mandarim, os Uyghur falam sua própria língua, o Uigur, que é escrita em uma versão modificada do alfabeto árabe.
A culinária Uyghur é famosa por seus sabores exóticos, com pratos como o Polu – 抓饭 (zhuā fàn), um tipo de pilaf feito com arroz, carne de cordeiro e cenouras. Outra especialidade é o pão Naan – 馕 (náng), um pão achatado assado em forno de barro que é comum em toda a china, principalmente com churrasco.
Uma China de múltiplos mundos
Explorar a China é mergulhar em um universo de diversidade que, ao longo dos séculos, manteve sua unidade cultural. Cada região — Norte, Sul e Oeste — oferece um pedaço único do vasto mosaico que compõe o país.
No Norte, monumentos históricos como a Grande Muralha – 长城 (cháng chéng) e a Cidade Proibida – 故宫 (gù gōng) evocam o poder e a tradição das antigas dinastias. O Sul, com seus sabores sutis e paisagens verdes, revela uma China de delicadeza e riqueza natural, onde o dialeto Cantonês – 广东话 (guǎng dōng huà) traduz a suavidade e leveza da região. Já o Oeste, com as tradições espirituais dos tibetanos e a rica cultura dos Uyghur, destaca a diversidade étnica do país.
Para quem se interessa pela China, conhecer essas diferenças regionais é uma oportunidade de explorar um mundo além do idioma, entendendo as tradições, histórias e costumes que moldam a identidade chinesa.
Aprender mandarim é abrir uma porta para uma das civilizações mais antigas do planeta, que continua a encantar e surpreender com sua capacidade de preservar o passado enquanto avança para o futuro. Essa jornada é mais do que um aprendizado linguístico; é um convite para compreender uma China grandiosa, complexa e sempre fascinante.
Angelo Rigonatti
Brasileiro. Professor de Mandarim no Clube de Chinês, Jornalista e Tradutor, Estudante de Administração Pública na Universidade Jiaotong Xian, na China.