Como é a qualidade de vida na China?

Qualidade de vida na China: A política pública tendo o cidadão como o principal

Quando falamos sobre a China e sua história recente, é impossível não notar a transformação gigantesca que o país passou nas últimas décadas. Para quem, como eu, veio do Brasil para estudar nesse país asiático de tamanho continental e diversidade étnica e cultural impressionante, a sensação é de mergulhar em um mundo onde a tecnologia e a conveniência estão presentes em todos os aspectos do dia a dia — algo que eu jamais imaginaria antes de chegar aqui.

Apesar da modernidade de hoje, essa realidade contrasta fortemente com a China de antes da Revolução Socialista e de tempos mais distantes, ainda marcados por feridas profundas no povo chinês, conhecidos como o “Século das Humilhações” – 百年国耻 (bǎi nián guó chǐ). Entender essa trajetória é crucial para compreender a vida na China atual, a visão que os chineses têm do mundo e deles mesmos.

Neste texto você irá descobrir como é a qualidade de vida na China nos dias de hoje, além de conhecer mais sobre a história chinesa e novas expressões em mandarim:

O passado da China: O século das humilhações e o início das mudanças

Para compreender como a China chegou ao status atual, precisamos voltar ao século XIX, quando o país foi assolado pela Guerra do Ópio – 鸦片战争 (yā piàn zhàn zhēng). Naquela época, o país era dominado por potências coloniais europeias que invadiram, saquearam e assassinaram milhões, levando a população  de diversos países asiáticos a viver em condições de extrema pobreza e desigualdade. 

O período, conhecido como o “Século das Humilhações”, só teve fim com a ascensão de Mao Tsetung – 毛泽东 (máo zé dōng) após a Revolução Socialista de 1949, que buscava reerguer a nação.

A China da época estava mergulhada em problemas econômicos, políticos e sociais. Com os desafios deixados pelo século de colonização europeia e as pressões estrangeiras após a revolução, a fome era um dos maiores desafios e a expectativa de vida era muito baixa, em torno de 35 anos. 

Quando comparamos com o Brasil, que na época também enfrentava desafios, mas em uma escala diferente, vemos como a situação chinesa era crítica. Embora a China tenha enfrentado desafios nos primeiros anos, principalmente durante o Grande Salto Adiante – 大跃进 (dà yuè jìn) e a Revolução Cultural – 文化大革命 (wén huà dà gé mìng), as décadas seguintes mudaram drasticamente a qualidade de vida na China.

A revolução tecnológica e a China moderna

Atualmente, a China é sinônimo de inovação tecnológica e eficiência. Coisas que muitos brasileiros consideram futuristas já fazem parte do cotidiano dos chineses. Na palma da mão, com aplicativos como WeChat – 微信 (wēi xìn), os chineses pagam contas, fazem compras, agendam consultas médicas e até mesmo realizam transações imobiliárias. O sistema de pagamento via QR code é tão difundido que fora das movimentadas zonas turísticas cheias de estrangeiros, raramente se vê alguém usando dinheiro físico.

Além disso, a infraestrutura de transporte de alta velocidade, com trens-bala – 高铁 (gāo tiě), permite que você cruze o país em questão de horas. Por exemplo, uma viagem de Pequim- 北京 (běi jīng) a Xangai – 上海 (shàng hǎi), que antes levava dias, agora pode ser feita em menos de 5 horas. Comparando com o Brasil seria como ir de São Paulo a Salvador. 

Como estudante na China, essa conveniência tecnológica impacta diretamente a nossa qualidade de vida. Lembro-me de como era pegar ônibus e trens no Brasil, e o contraste com a agilidade e pontualidade dos transportes chineses é impressionante, além de terem um preço mais acessível e muita qualidade.

Mas não é apenas na mobilidade que a China avança. Cidades como Shenzhen – 深圳 (shēn zhèn) e Hangzhou – 杭州 (háng zhōu) são verdadeiros polos de inovação, sendo chamadas de “Novo vale do Silício”, abrigando algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo, como o Alibaba –  阿里巴巴 (ā lǐ bā bā) e Huawei – 华为 (huá wéi). 

A facilidade com que novas ideias são implementadas na vida cotidiana da China é algo que, como brasileiro, continuo a achar impressionante. A velocidade da internet, a automação e a maneira como a inteligência artificial, 人工智能 (rén gōng zhì néng), é integrada em diversos setores tornam a vida extremamente conveniente.

Como é a qualidade de vida na China? Pagamento via QR Code e outras comodidades.
Pagamento via QR Code

Expectativa e qualidade de vida na China

Dados mostram que a expectativa de vida na China disparou nas últimas décadas. Antes da Revolução de 1949, a expectativa de vida era de cerca de 35 anos. Hoje, esse número se aproxima dos 80 anos. O acesso à saúde pública também foi ampliado, com políticas que garantem assistência médica nas áreas urbanas e rurais.

Além do aumento significativo da expectativa de vida na China, as idades de aposentadoria também se destacam quando comparadas a países como Brasil, Estados Unidos e diversas nações europeias. Na China, a idade de aposentadoria varia entre 55 e 63 anos, dependendo do gênero e do tipo de trabalho. Trabalhadores braçais e mulheres costumam se aposentar mais cedo, com idades menores em comparação aos homens e profissionais administrativos.

As cidades chinesas, com suas redes hospitalares e sistemas avançados de saúde, oferecem um nível de atendimento que muitas vezes contrasta com a realidade de países em desenvolvimento, como o Brasil. Como estrangeiro, pude experimentar essa estrutura ao visitar hospitais em Wuhan e Pequim, onde o atendimento é eficiente e altamente tecnológico, além de acessível para a população. O uso de aplicativos para agendar consultas e realizar exames é comum, algo que felizmente está sendo introduzido no Brasil mas que já é realidade na China há muito tempo.

No entanto, é importante destacar que a qualidade de vida não se restringe às grandes cidades. Embora as megacidades chinesas como Pequim, Xangai e Shenzhen sejam o centro da inovação, também se investe de forma pesada no desenvolvimento rural não apenas na parte de produção alimentícia, mas também no desenvolvimento em infraestrutura para essas populações. 

Comparado com a vida no campo do Brasil, a China oferece um padrão elevado em termos de infraestrutura e conectividade, tendo amplas vias ferroviárias para movimentação das produções desses locais para todo o país, e também para o transporte de pessoas, criando uma conexão entre a cidade e o campo, quase inexistente no Brasil e no ocidente. O objetivo do país é reduzir a diferença entre as áreas urbanas e rurais. Políticas como a “nova revitalização rural” – 乡村振兴 (xiāng cūn zhèn xīng) estão em pleno andamento para garantir que as áreas do interior também usufruam dos benefícios do crescimento econômico.

Com isso, o sistema educacional também se modernizou. Escolas em zonas rurais agora têm acesso à tecnologia e programas de capacitação, que não estavam disponíveis no passado. Isso reflete uma visão de crescimento igualitário, onde a China tenta não deixar ninguém para trás.

Brasil e China: Oportunidades e desafios

Do ponto de vista de um brasileiro que vive na China, é interessante comparar como as duas nações lidam com questões de qualidade de vida. No Brasil, ainda enfrentamos desafios graves em áreas como transporte público, saúde e segurança. Na China, apesar de suas questões internas, como a luta contra a poluição e o reflorestamento intenso, o progresso é evidente. Isso se reflete nas oportunidades que o país oferece, tanto para os próprios cidadãos quanto para estrangeiros, como eu e você.

Para brasileiros que desejam estudar ou trabalhar aqui, a China oferece uma qualidade de vida que pode ser muito superior à encontrada em grandes cidades brasileiras e até mesmo na América do norte e Europa. Desde a acessibilidade da tecnologia até a eficiência dos serviços públicos, viver na China é, muitas vezes, uma experiência de imersão em um futuro já presente, é espiar o que o Brasil pode se tornar algum dia. O contato com uma cultura milenar, mas que ao mesmo tempo é altamente moderna, é algo único e mágico.

A segurança nas ruas das cidades chinesas é outro ponto de destaque. Mesmo nas megacidades, é comum ver crianças e idosos passeando sozinhos, algo que não acontece com a mesma frequência em grandes cidades brasileiras devido aos problemas de segurança.

Uma trajetória de crescimento e oportunidade

A China de hoje é muito diferente da China de décadas atrás. O país passou por uma revolução, não apenas no campo político, mas também em termos de qualidade de vida. Como brasileiro, é inspirador ver como um país que estava à margem do desenvolvimento global se tornou uma potência inovadora, com uma qualidade de vida que supera a de muitas nações ocidentais.

Para nós, que estamos estudando mandarim e vivendo essa realidade de perto, é um privilégio poder acompanhar de dentro as transformações que continuam moldando a China. Se existe uma palavra para descrever a vida aqui, seria “eficiência”, e é difícil não se encantar com a maneira como o país conseguiu equilibrar seu passado histórico com as demandas de um futuro, mas mais importante, incluindo a todos.

Parceria Brasil e China

Angelo Rigonatti

Brasileiro. Professor de Mandarim no Clube de Chinês, Jornalista e Tradutor, Estudante de Administração Pública na Universidade Jiaotong Xian, na China.

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