Qual a história da Grande Muralha da China?

Qual a história da Grande Muralha da China?

A Grande Muralha da China é o maior ponto turístico do país e o mais famoso de todos. Geralmente, quando turistas decidem vir visitar a China, acabam escolhendo a Grande Muralha como ponto turístico indispensável. E você, leitor, já teve a chance de visitar essa maravilha histórica ou ainda está planejando a sua viagem? De qualquer forma, conhecer mais sobre sua fascinante história certamente enriquecerá sua experiência.

Neste texto, vamos entender a história da Grande Muralha, explicando sua origem e os motivos pelos quais foi construída, expandida, restaurada e preservada.

Qual a história da Grande Muralha da China?

O que é a Grande Muralha da China?

Qual a história da Grande Muralha da China?

A Grande Muralha da China é uma fortificação com extensão de mais de 20 mil km. Está localizada no norte do país, se estende desde a província de Gansu, no oeste, até a província de Liaoning, no leste.

Vamos ver abaixo a história da construção da Grande Muralha dividida por dinastias, considerando apenas as que tiveram mais relevância no processo de desenvolvimento da fortificação chinesa.

Dinastia Zhou – 周朝 (zhōu cháo) (1046 AEC – 256 AEC)

Dinastias chinesas e a Grande Muralha da China

Antes da Grande Muralha ser construída, durante a Dinastia Zhou (1046 AEC – 256 AEC), a China passou por um longo período de conflitos internos chamado de “Período dos Estados Combatentes”. Nesse momento, o território hoje compreendido como China era controlado por sete Estados diferentes, que mais tarde entraram em guerra. Para delimitar suas fronteiras, cada Estado possuía muralhas que serviam como fortificações militares para protegê-los de invasões. Após cerca de 250 anos de conflitos, como resultado, o Estado Qin saiu vitorioso.

Dinastia Qin – 秦朝 (qín cháo) (221-206 AEC) 

Qual a história da Grande Muralha da China?

Ao ser inaugurada a Dinastia Qin (221-206 AEC), sob o comando do imperador 秦始皇 (qín shǐ huáng), foi inicializado um processo de unificação do país. O meio concreto usado para unificar a China se deu pela destruição das antigas muralhas, que delimitavam as fronteiras dos antigos Estados combatentes, e pela construção de uma única Grande Muralha que passaria a proteger o território inteiro de um só país. 

Assim, a construção da chamada “Grande Muralha da China” foi iniciada. A localização da Grande Muralha original era a mesma da atual: ao norte, visando proteger a China de invasões que poderiam ser realizadas pela Mongólia.

Dinastia Han – 汉朝 (hàn cháo) (206 AEC – 220 EC) 

Dinastias chinesas e a Grande Muralha da China

Em 206 AEC, a dinastia Qin foi deposta como resultado da guerra civil entre os Estados Chu e Han. A dinastia Han (206 AEC – 220 EC) foi implementada após o grupo liderado por Liu Bang vencer a Batalha de Gaixia, travada contra as forças de Xiang Yu. Como resultado, Liu Bang se tornou o primeiro imperador da nova dinastia, e passou a ser chamado Han Gaozu – 汉高祖 (hàn gāo zǔ).

Foi durante a dinastia Han que foi realizada uma política de expansão da Grande Muralha enquanto o “escudo da Rota da Seda”. O imperador da dinastia Han foi o primeiro a usá-la para regular o comércio ao norte, em direção ao oeste, ao longo da Rota da Seda.

A Rota da Seda começou a se desenvolver na atual cidade de 西安 (xī’ān). Han Gaozu foi responsável por defender as fronteiras da China diante de invasões de povos nômades vindos da Sibéria e da Mongólia. Esses povos haviam formado a Confederação 匈奴 (xiōng nú), organizada para tentar conquistar a China. Diante disso, o imperador investiu nas forças armadas e expandiu a construção da Grande Muralha (que tinha começado a ser construída durante a Dinastia Qin). Porém, os investimentos militares foram insuficientes para vencer os invasores, que tinham arqueiros e montaria mais ágeis e com alcance superior.

Após a ascensão do imperador Han Wudi em 141 AEC., o Exército Imperial foi reorganizado, com maior ênfase na infantaria e no desenvolvimento de armas de longo alcance, como a besta. Ele fortificou a Grande Muralha e iniciou a construção de bases e fortificações rumo ao oeste, atravessando Xinjiang até a Pérsia (atual Irã).

Han Wudi formou alianças militares e comerciais com países vizinhos, permitindo a criação da Rota da Seda, que ia de Xi’an até o Cazaquistão. A rota facilitou a construção de estradas e fortalezas, expandindo a influência da China internacionalmente.

Como resultado, a Confederação Xiongnu perdeu influência e seus parceiros comerciais, desintegrando-se em 73 AEC. A Rota da Seda também permitiu à Dinastia Han estabelecer relações amistosas com países vizinhos e criar o Protetorado das Regiões Ocidentais (atual Xinjiang), garantindo a unidade e prosperidade da China e o acesso à Ásia Central.

Caso queira entender melhor a relação entre a expansão da Grande Muralha e o desenvolvimento da Rota da Seda, na semana passada eu fiz uma live no Clube de Chinês sobre o assunto. Clique aqui para assistir.

Dinastia Yuan – 元朝 (yuán cháo) (1271-1368 EC)

A dinastia Yuan (1271-1368 EC) foi implementada após a invasão da China pelos mongóis. Apesar da Grande Muralha, de toda sua extensão e de todas as fortificações que foram construídas ao longo de centenas de anos, foi impossível prevenir a invasão mongól. Isso aconteceu pelas seguintes razões:

  1. A Muralha não cobria toda a fronteira norte da China, então havia lugares onde os mongóis podiam entrar sem serem parados.
  2. Os mongóis eram belicosos, tinham uma cultura de guerra, e foram capazes de atravessar a Grande Muralha quando era necessário.
  3. Havia aliados dos mongóis dentro da China que os auxiliavam para encontrar maneiras de passar pela Muralha.
  4. Os mongóis usavam armas tecnologicamente mais avançadas e úteis para derrubar partes da Muralha.

A Grande Muralha não conseguiu proteger completamente a China dos mongóis e, assim, a dinastia Yuan foi estabelecida por Kublai Khan, o neto de Genghis Khan. Os mongóis dominaram a China, estabelecendo-se como a classe dominante, mas foram incapazes de colonizar a China no sentido moderno da palavra.

Os mongóis não conseguiram substituir a cultura chinesa nem estabelecer presença permanente. Eles governaram a China a partir de bases próprias no norte, mantendo identidades culturais separadas. Mais tarde, com a cultura chinesa intacta devido à sua intensa capacidade de influência, o confucionismo absorveu a cultura dos invasores, e a dinastia Yuan manteve a tradição cultural chinesa, absorvendo os valores e práticas de guerra dos mongóis.

Dinastia Ming – 明朝 (míng cháo) (1368 – 1644 EC)

A dinastia Ming (1368 – 1644 EC) foi erguida em um ato de superação do domínio mongol, de libertação dos chineses. A queda da dinastia Yuan e o estabelecimento da dinastia Ming foram resultados de uma série de eventos, incluindo descontentamento popular com a administração mongol, revoltas e a ascensão de líderes rebeldes.

Zhu Yuanzhang, um ex-monge budista e líder rebelde, liderou uma revolta popular contra a dinastia Yuan. Com o apoio de outros rebeldes e camponeses, ele gradualmente conquistou vários territórios da China. Em 1368 EC, as forças de Zhu Yuanzhang conquistaram Beijing, capital da Dinastia Yuan, e ele proclamou-se o primeiro imperador da Dinastia Ming.

A dinastia Ming durou quase três séculos e foi marcada pela expansão territorial, incluindo a construção da atual Grande Muralha. A maior parte da Grande Muralha que vemos hoje foi construída durante a Dinastia Ming (1368-1644 EC).

Nesse período, foram adicionadas torres de vigia e a muralha foi estendida e alargada para melhorar a defesa contra invasões, especialmente dos mongóis, que ainda eram vistos como uma ameaça. As torres de vigia permitiam comunicação rápida por meio de sinais de fumaça e fogo, e a muralha foi reforçada com tijolos e pedras, tornando-a mais resistente.

Dinastia Qing – 清朝 (qīng cháo) (1644-1912 EC) 

Após a Dinastia Ming, a Grande Muralha perdeu sua importância durante a Dinastia Qing (1644-1912 EC). Os Qing, vindos da Manchúria, expandiram as fronteiras da China além da muralha, incluindo territórios como a Mongólia e a Manchúria. Com essa expansão, a muralha deixou de ser essencial para a defesa e foi gradualmente abandonada como principal estrutura defensiva.

Atualidade

A Grande Muralha da China

Após a proclamação da República Popular da China, a Grande Muralha passou a ser tratada como ponto turístico, não tendo mais relevância estratégica ou comercial.

Esforços de restauração começaram na década de 1980, e a muralha foi reconhecida como Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1987. Em 2007, foi reconhecida como uma das Sete Maravilhas do Mundo.

A Grande Muralha da China continua a desempenhar um papel incrivelmente importante na cultura e economia do país, sendo uma das atrações turísticas mais visitadas do mundo e gerando uma quantidade impressionante de empregos na região. Além disso, é considerada o símbolo supremo de unidade nacional e é objeto de estudo para pesquisadores e educadores de renome mundial. Os esforços para promover o turismo sustentável ao redor da Muralha visam preservar sua extraordinária importância histórica e ambiental para as gerações futuras.

Como visitar a Grande Muralha da China?

Eu visitei a Grande Muralha e recomendo fortemente que você, leitor, também venha para a China e visite a Grande Muralha. As fotos que ilustram este texto foram todas tiradas por mim, que escolhi as melhores para colocar neste texto.

Considerando que se trata de uma construção gigantesca, é possível visitar partes da Grande Muralha em quatro localidades diferentes: Beijing, Hebei, Liaoning e Shanxi. Entretanto, as seções mais famosas da Grande Muralha estão em Beijing.

A seção mais famosa em Beijing é a de Badaling – 长城八达岭 (cháng chéng bā dá lǐng). Badaling é conhecida por ser a mais visitada e acessível. Outra seção popular e acessível da Grande Muralha em Beijing é Mutianyu 慕田峪 (mù tián yù). Mutianyu é apreciada por suas paisagens deslumbrantes e menor aglomeração de turistas.

Compartilhando minha experiência para ir à seção de Badaling, devo dizer que há duas maneiras para chegar. Estando em Beijing, você tem duas opções: trem ou carro.

Se optar ir de trem, você deve ir até a Estação Ferroviária Norte de Pequim (Beijing North Railway Station, 北京北站), localizada no distrito de Xicheng. Nela, trens lotados de gente saem a cada hora rumo à Grande Muralha.

Se optar ir de carro, terá que chamar um Didi (o aplicativo equivalente ao Uber na China), e pagar um preço estimado de 200 yuan renminbi, sendo muito mais caro do que o trem, mas mais conveniente.

Ao chegar na Grande Muralha, você deve caminhar um pouco até chegar na bilheteria. No caminho até a bilheteria, há diversos estabelecimentos, como restaurantes e lojas para comprar lembrancinhas.

Chegando na bilheteria, basta comprar um ticket de cerca de 40 yuan renminbi. Ao passar pelo portão principal, basta aproveitar a experiência.

Normalmente, o objetivo dos turistas é chegar até o “topo” da Grande Muralha, onde é possível desfrutar de uma das visões mais deslumbrantes e inesquecíveis de sua vida. O topo é convencionalmente chamado assim por ser o ponto mais alto da Muralha que pode ser alcançado por turistas comuns dentro do escopo da seção de Badaling.

Ao chegar no topo, há a seguinte citação de Mao Zedong escrita nas paredes: 不到长城非好汉 (bù dào cháng chéng fēi hǎo hàn), ou seja: Se você não visitar a Grande Muralha, você não é um chinês de verdade.

Rafael Queiroz Alves 陈子愈
Rafael Queiroz Alves 陈子愈
Brasileiro. Professor do Clube de Chinês, intercambista pela Universidade de Hubei e mestre em Relações Internacionais e Desenvolvimento pela UNESP.

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1 Comentário

  1. A história da Grande Muralha, aqui mencionada, é verdadeiramente encantadora e desperta interesse. Este é um dos aspectos que poderia ser transformado em um pequeno livro para minha aquisição

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