Existe diferença entre chinês e mandarim?
Entenda como o mandarim foi criado
Muitas vezes quando pesquisamos sobre a língua chinesa e o mandarim, a diferença entre esses dois termos não fica muito clara. Existe uma distinção entre chinês e mandarim?Se sim, qual é?Ao longo desse texto vamos tentar esclarecer um pouco mais sobre esses dois conceitos.
Qual a diferença entre língua e dialeto?
Inicialmente, é importante entender que o chinês é uma língua e o cantonês, por exemplo, é um dialeto chinês. Mas o que isso significa?Uma forma de elucidar isso é compreender a definição de língua e dialeto.
Como esse é um tópico alvo de discussões inclusive entre especialistas da área, vamos tentar simplificar com a definição colocada por Eugenio Coseriu em seu trabalho “Língua histórica” e “Dialeto”: “Ou seja, a língua inclui o dialeto, mas não o contrário: todo dialeto é uma língua, mas nem todas as línguas são um dialeto.”
Para olhar mais de perto, em chinês, a palavra dialeto é 方音 (fāng yīn), 方 (fāng) se refere a “lugar”, enquanto 音 (yīn) se refere a “fala”. Com essas considerações, podemos dizer que o chinês é a língua, o termo guarda chuva que inclui vários dialetos, e o mandarim surgiu como uma forma de padronizar esses dialetos.
Como surgiu o mandarim?
Seu nome chinês é 普通话 (pǔ tōng huà), que significa língua do povo. Ao longo do século 20, a China passou por uma série de reformas. Entre essas reformas, a partir de 1956 o governo passou a promover o mandarim para enfrentar as barreiras linguísticas entre os chineses de diversos locais. Nessas circunstâncias, o mandarim foi muito mencionado como 国语 (guó yǔ), sendo 国 (guó) referente a “país”, e 语 yǔ referente à “língua”.
Anteriormente, ao longo da história da China, houveram outras línguas oficiais, por exemplo, na dinastia Zhou (046–256 AC), escritos mencionan a 雅言 (yǎ yán), que sería correspondente a língua standard do período, que geralmente os oficiais e estudiosos utilizavam.
Originalmente, o mandarim surgiu de dialetos do norte da China, principalmente em Pequim, antiga e atual capital chinesa, e durante a dinastia Ming começou a se consolidar, até ser utilizado pela maioria dos chineses. Por essas razões, inclusive, o sotaque, por sua realização na região norte, tinha muitas influências das línguas faladas na Mongólia e na Manchúria. Como Pequim era o centro político da China no período, os dialetos inspiradores do mandarim se destacavam por ser a língua que os principais oficiais chineses utilizavam para se comunicar.
Portanto, quando os portugueses estabeleceram seus primeiros contatos com os políticos chineses, e ouviram os oficiais utilizarem essa língua para se comunicar, criaram o termo mandarim.
Ou seja, a língua daqueles que mandam, ou governam. Termo que é muito parecido com a primeira forma de denominar o mandarim em chinês: 官话 (guān huà), 官 (guān), significa “político” e 话 (huà) significa “palavra”.
E os dialetos chineses?
Na China existem 56 grupos étnicos e 23 províncias, por conta disso, historicamente muitos dos povos, em diferentes regiões, desenvolveram sua própria cultura, e consequentemente, seus próprios dialetos. Um dos principais dialetos, sem considerar o mandarim, é o cantonês, 广东话 (guǎng dōng huà).
E, inclusive,uma boa parte dos chineses que atualmente vivem no Brasil, são de Cantão, então é muito comum encontrar chineses que se comunicam utilizando cantonês por aqui. Diferente do mandarim, que conta com 4 tons, o cantonês é um dialeto tonal de 6 tons, ou 9 considerando as sílabas fechadas! Um exemplo de como os dialetos são distintos é o 你好, que significa “olá” em chinês. Em mandarim, a pronúncia de 你好 é nǐ hǎo, enquanto que em cantonês, ele é pronunciado nei5 hou2.
Diferenças como essas entre os dialetos são muito relevantes, pois pode ser que, quando você pense em dialeto, a primeira coisa que passe pela sua cabeça é uma mesma língua falada com um sotaque diferente, mas que, ainda sim, permite a comunicação entre os falantes.
Contudo, os dialetos do chinês são muito particulares, apesar de muitos deles contarem com o mesmo sistema de escrita, não é sempre que chineses de diferentes regiões consigam se entender utilizando seus dialetos próprios.
Como forma de unificar a comunicação, surgiu o mandarim. Assim, ele é a língua utilizada nas escolas, em noticiários, propagandas, e muitas outras coisas de alcance público. Por conta dele, um chinês do sul pode se comunicar com um chinês do norte sem problemas. Mas ainda sim, em comunidades e províncias locais é comum encontrar pessoas utilizando seu próprio dialeto.
Afinal, o que estudar ao aprender chinês?
Ao aprender chinês, o sistema de escrita chinesa e as formas gramaticais são válidas para a maior parte dos dialetos. Contudo, o ideal para começar é utilizar o mandarim, já que ele é a língua oficial da China, e vai permitir uma comunicação eficaz. Com o tempo, é possível começar a conhecer outros dialetos, especialmente notando as diferenças e semelhanças em comparação com o mandarim.
É importante sempre lembrar, que nem os próprios nativos chineses dominam todos os dialetos, há muitos inclusive que são fluentes apenas em mandarim. Dessa forma, é válido sempre dar um passo de cada vez no estudo desse idioma tão rico.
Tendo essas diferenças esclarecidas. O que podemos concluir é:
1. O Chinês é uma língua que abrange dialetos diferentes entre si;
2. O mandarim é a junção dos dialetos do norte, sendo ele a língua oficial da China.
Se ficou interessado e quer aprender mais sobre a China e sua linguística, você pode iniciar sua jornada se juntando ao Clube de Chinês, e ser introduzido ao idioma abrangente, que é o chinês, aprendendo mandarim e tendo a oportunidade de trocar experiências em nossa comunidade.
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