História da Escrita Chinesa: da escrita em ossos à alfabetização em massa
Os ideogramas chineses tornam a escrita chinesa exótica, mas trazem beleza a ela. Leigos, em um primeiro momento, podem se assustar ao vê-los, e podem pensar ser impossível compreender a escrita chinesa.
No entanto, uma vez que se começa a estudá-los, a profundidade histórica e cultural contida nos ideogramas passa a transparecer. Neste texto, você vai entender mais sobre a escrita chinesa, o conceito por trás dos caracteres chineses, a história deles, quais são seus estilos e o impacto cultural e social que causam.
Como são os caracteres chineses?
Os caracteres mais simples são os pictogramas, que representam imagens da vida real. Por exemplo: 人 significa “pessoa”; 火 significa “fogo”; 木 significa “árvore”; 林 significa “árvores”. Todos esses caracteres citados têm como referência imagética objetos concretos e por isso são facilmente associados com seus significados.
O que exige uma compreensão um pouco mais profunda desses ideogramas, é somente o reconhecimento das sílabas e tons contidos neles. Para compreender plenamente um caractere chines é necessário saber: seus traços, tom e significado.
Na escrita chinesa, os ideogramas, que inicialmente tinham uma referência pictográfica, passaram a influenciar a cultura, a sociedade e a política chinesas. Na medida em que floresceram, passaram a se complexificar. Então, os caracteres, ligados à comunicação oral, começaram a se tornar também representações de sons e de sons misturados com referências imagético-culturais. De modo geral, então, existem três categorias de caracteres chineses: pictográficos, fonéticos e picto fonéticos.
A origem dos caracteres chineses
A escrita chinesa está interligada com a cultura e a história do país. Ao longo da história, foram encontrados caracteres antigos escritos em cerâmicas. O consenso científico é de que a escrita começou a evoluir durante a Dinastia Shang. Posteriormente, frases inteiras passaram a ser escritas em ossos oraculares (ossos de boi ou cascos de tartaruga onde sábios escreviam previsões do futuro).
Os chineses da Antiguidade desenvolveram inicialmente uma escrita focada em símbolos (pictográficos), diferentemente de outras culturas que desenvolveram seus sistemas de comunicação a partir de referências fonéticas. A base inicial da escrita chinesa a tornou comparativamente difícil de aprender e, por consequência, elitista (apenas as camadas sociais elevadas tinham o privilégio de aprender a ler e escrever).
Essa elite letrada e competente, por outro lado, se tornou capaz de aprender formas de comunicação avançadas que levaram à expansão da cultura chinesa para fora do país. Além disso, nações vizinhas eram atraídas pela cultura e pela língua chinesas devido às oportunidades comerciais disponíveis no país.
No entanto, desde o princípio, a leitura e escrita chinesa não são apenas habilidades práticas, mas também envolvem a absorção de valores culturais chineses. Um estudante do idioma, automaticamente, deve ser introduzido à cultura e buscar se adequar às formas de expressão da China.
Uma vez que se começa a estudar esta língua fortemente enraizada em uma ambientação cultural única e sofisticada, é necessário “virar a chave” e se adaptar às diferentes formas de expressão cultural inerentes ao povo chinês. Daí vem a ideia de 入乡随俗 (rù xiāng suí sú) – Quando em Roma, faça como os romanos.
Os estilos de escrita chinesa
Ao longo da História, foram elaborados os seguintes estilos de escrita chinesa:
甲骨文 (jiǎ gǔ wén): Escrita oracular desenvolvida durante a Dinastia Shang (1600-1046 a.C.).
大篆 (dà zhuàn): Escrita mais estilizada e menos pictográfica usada durante a Dinastia Zhou (1046-256 a.C.).
小篆 (xiǎo zhuàn): Escrita simplificada e padronizada que serviu como base para os estilos posteriores. Foi desenvolvida na Dinastia Zhou Oriental (770-256 a.C.).
隶书 (lì shū): Estilo de escrita oficial e burocrático desenvolvido para que seja legível e rápido. Foi elaborado durante a Dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.).
楷书 (kǎi shū): É o estilo de escrita chinesa mais utilizado até hoje. Os caracteres são bem proporcionais e padronizados. São a fonte padrão de digitação, impressão e escrita oficial. Foi desenvolvido durante a Dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.).
行书 (xíng shū): É a escrita semi-cursiva (podemos considerar como uma “escrita meio de mão”), que se desenvolveu a partir do 楷书 (kǎi shū). Os traços são corridos, mas ainda são legíveis. Também foi desenvolvido durante a Dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.).
草书 (cǎo shū): É a escrita chinesa completamente cursiva (de mão). É altamente estilizada e fluida, com traços conectados. É um traço provido de beleza estética e usado por calígrafos de nível avançado. Esse estilo de escrita foi elaborado durante a dinastia Qin (221-207 a.C.).
Ideogramas chineses tradicionais versus simplificados
A partir dos estilos 楷书 (kǎi shū), 行书 (xíng shū) e 草书 (cǎo shū) a escrita chinesa floresceu durante a Modernidade nos meios literários, acadêmicos e poéticos. Entretanto, em um primeiro momento, a fundamentação elitista da escrita chinesa prevaleceu devido à quantidade de traços relativamente alta dos caracteres tradicionais – 繁体 (fán tǐ).
A escrita chinesa complicada dificultava a alfabetização dos chineses, e essa era uma das razões pelas quais a sociedade chinesa era tão desigual durante a última dinastia do país, a Qing (1644-1911), e após a proclamação da primeira república (1911-1949). A educação formal estava disponível apenas para uma elite composta por aristocratas e burocratas.
Essa foi a condição da sociedade chinesa até a Proclamação da República Popular da China em 1949. Sob a liderança de 毛泽东 (máo zé dōng), na década de 1950 foi iniciado o movimento de simplificação dos caracteres chineses. O objetivo desta campanha era aumentar o nível de alfabetização do país, tornando a escrita chinesa mais acessível e a sociedade mais igualitária e desenvolvida.
O método consistiu basicamente em reduzir a quantidade de traços necessários para escrever cada caractere. Assim, surgiram os caracteres simplificados 简体 (jiǎn tǐ). Em 1956 passaram a ser feitas publicações oficiais com caracteres simplificados. Hoje, a alfabetização na China Continental ultrapassa 95%.
Todavia, até hoje, em Taiwan e Hong Kong os caracteres tradicionais ainda são utilizados. Além disso, existe um consenso entre calígrafos e poetas sobre os caracteres tradicionais serem mais adequados para trabalhos artísticos.
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